Vitor Abdala – Repórter da Agência Brasil,
O projeto de reforma do Armazém das Docas Dom Pedro II, construído em 1871, na zona portuária do Rio de Janeiro, deverá ser concluído até o fim do ano que vem, segundo previsão do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass.
O prédio histórico, projetado pelo engenheiro negro André Rebouças, sem uso de mão de obra escrava, fica em frente ao Cais do Valongo e deverá receber um centro de memória sobre a história e a cultura negras no país. A previsão inicial é que o espaço comece a funcionar em 2026.
O centro de memória foi anunciado em março deste ano, mas ainda não há detalhes de como será o espaço. Grass acredita, no entanto, que não será apenas um museu, mas um centro cultural.
“A ideia é fazer um grande Centro Cultural, então, ele vai ter uma multidisciplinaridade, uma perspectiva diversa de ocupação. Enfim, essa concepção ainda vai ser melhor discutida, mas a ideia é que não seja só um museu, vai ter uma perspectiva de multiuso”, afirmou Grass.
Nesta quinta-feira (23), foram entregues as obras de revitalização do Cais do Valongo, que foi nomeado patrimônio mundial pela Unesco, em 2017. Além da instalação de um guarda-corpo resguardando os vestígios do antigo porto, foram colocadas placas informativas sobre o sítio, que foi o principal ponto de desembarque de escravos africanos no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX.
“Esse lugar tem um enorme valor em termos de história de memória não só nacional, mas principalmente internacional. A África é uma prioridade global da Unesco e esse lugar marca uma relação importante entre a África e o Brasil. É uma memória que não pode ser perdida e precisa ser valorizada”, afirmou a coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Isabel de Paula.
O entorno do Cais do Valongo, que inclui a Praça Mauá e os bairros da Saúde e da Gamboa, é conhecida como Pequena África, e contém outros sítios importantes para a história negra no Brasil, como o Cemitério dos Pretos Novos, onde eram enterrados os escravos recém-chegados ao país que morriam antes de serem vendidos, e a Pedra do Sal, conhecido como berço do samba carioca.
“Há necessidade de um olhar diferenciado para esse local, que é emblemático”, disse Gracy Mary Moreira, integrante do Comitê Gestor do Cais do Valongo e bisneta de Tia Ciata, uma das responsáveis pelo nascimento do samba e pela popularização das baianas quituteiras do Rio de Janeiro.